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Horace’s Diffugere Nives by Camões, 1595 (& 182 English Translations):

Fogem as neves frias

dos altos montes, quando reverdecem

as árvores sombrias;

as verdes ervas crescem,

e o prado ameno de mil cores tecem.

 

Zéfiro brando espira;

suas setas Amor afia agora;

Progne triste suspira

e Filomela chora;

o Céu da fresca terra se enamora.

 

Vai Vênus Citereia

com os coros das Ninas rodeada;

a linda Panopeia,

despida e delicada,

com as duas irmãs acompanhada.

 

Enquanto as oficinas

dos Cíclopes Vulcano está queimando,

vão colhendo boninas

as Ninfas e cantando,

a terra co ligeiro pé tocando.

 

Desce do duro monte

Diana, já cansada d’espessura,

buscando a clara fonte

onde, por sorte dura,

perdeu Actéon a natural figura.

 

Assim se vai passando

a verde Primavera e seco Estio;

trás ele vem chegando

depois o Inverno frio,

que também passará por certo fio.

 

Ir-se-á embranquecendo

com a frígida neve o seco monte;

e Júpiter, chovendo,

turbará a clara fonte;

temerá o marinheiro a Orionte.

 

Porque, enfim, tudo passa;

não sabe o tempo ter firmeza em nada;

e nossa vida escassa

foge tão apressada

que, quando se começa, é acabada.

 

Que foram dos Troianos

Hector temido, Eneias piadoso?

Consumiram-te os anos,

Ó Cresso tão famoso,

sem te valer teu ouro precioso.

 

Todo o contentamento

crias que estava no tesouro ufano?

Ó falso pensamento

que, à custa de teu dano,

do douto Sólon creste o desengano!

 

O bem que aqui se alcança

não dura, por possante, nem por forte;

que a bem-aventurança

durável de outra sorte

se há-de alcançar, na vida, para a morte.

 

Porque, enfim, nada basta

contra o terrível fim da noite eterna;

nem pode a deusa casta

tornar à luz supernal?

Hipólito, da escura noite averna.

 

Nem Teseu esforçado,

com manha nem com força rigorosa,

livrar pode o ousado

Piritoo da espantosa

prisão leteia, escura e tenebrosa.